Sobre o autoritarismo brasileiro I Resenha



A obra Sobre o Autoritarismo Brasileira da antropóloga da USP Lilia M. Schwarcz, examina algumas das raízes do autoritarismo brasileiro, antigas e arraigadas. Nele a autora ajuda a entender porque somos uma nação mais excludente do que inclusiva.

A autora apresenta ao público uma análise profunda acerca das raízes do autoritarismo brasileiro, que formam a base do atual momento conservador em que viemos.

O livro contém 285 páginas está divido em:

  1. Introdução: História não é bula de remédio;
  2. Cap. 1 - Escravidão e racismo;
  3. Cap. 2 - Mandonismo;
  4. Cap. 3 - Patrimonialismo;
  5. Cap. 4 - Corrupção;
  6. Cap. 5 - Desigualdade Social;
  7. Cap. 6 - Violência;
  8. Cap. 7 - Raça e gênero;
  9. Cap. 8 - Intolerância;
  10. Conclusões finais.

"Veremos que não há como dominar totalmente o passado, mas o que pretendemos fazer aqui neste livro é "lembrar". Essa é a melhor maneira de repensar o presente e não "esquecer" de projetar o futuro". P. 21 na versão ebook.
 No capítulo 1, a autora trabalha a questão da escravidão e do racismo, enfatizando que através do uso da violência, esse sistema definiu condutas, desigualdade social, reforçando a constituição de uma sociedade centrada no paternalismo hierarquizado.

O segundo capítulo aborda o "mandonismo" que é uma forma de concentração nefasta do poder nas mãos de poucos, o coronelismo é muito bem analisado neste capítulo, bem como o voto de cabresto e o curral eleitoral. A autora faz críticas à famílias tradicionais na política que perduram no Congresso há gerações.

Intimamente ligado ao segundo capítulo, está o terceiro, nele a autora faz uma análise sobre o patrimonialismo, ou seja, a apropriação privada do bem público, abordando fatos e autores essenciais para a compreensão do tema.

No quarto capítulo Schwarcz faz uma ampla leitura sobre a história da corrupção no Brasil, demonstrando que essa prática perversa não é uma exclusividade dos nossos tempos, pelo contrário, sua habilidade de perdurar está associada à sua internalização na sociedade.

O capítulo sobre a desigualdade social refere-se ao papel da educação e do analfabetismo nesse processo de manutenção da desigualdade, revisando a história, a autora menciona que a educação nunca foi um direito de todos não poupando dados  que mostram a gravidade da violência no Brasil.

Quanto ao sexto capítulo, Schwarc divide ele em 2 partes: uma se refere a questão da violência no campo e a outra sobre a questão da violência e discriminação a pessoas LGBTTQ, destacando o problema cultural ligado a essas questões, em relação às questões ligadas a violência de gênero e raça são muito bem analisadas no capítulo 7.

O oitavo capítulo representou um retorno à lucidez típica da autora, na medida em que a intolerância é identificada como um problema nacional, com crescente repercussão e influência sobre o comportamento das pessoas, de modo que a atualidade tem demonstrado que a aversão ao outro representa um ataque aos sustentáculos do Estado de Direito.

Em resumo: trata-se de um livro muito bom no que concerne ao mandonismo, patrimonialismo, corrupção e a intolerância. Os demais capítulos assumiram um tom muito distinto do restante da obra, de modo que as afirmações agressivas e análises pouco aprofundadas – algumas muito apaixonadas – criam certa desconfiança em torno da coesão e do propósito do livro.
Por vezes a análise histórica está presente; em outros momentos, a dedicação é mais evidente na crítica ao momento conservador e ao atual governo.

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